Surpresa no Santa Efigênia

Tem prédio histórico de cara nova na esquina de Brasil com Padre Marinho no Santa Efigênia. O imóvel, que foi restaurado recentemente, faz parte da minha rota de caminhada diária há mais de 4 anos. Portanto, acompanhei de perto a restauração e tive o privilégio de ser um dos primeiros a ver a obra concluída. Se a beleza do prédio me surpreendeu, imaginem a minha satisfação ao vê-lo iluminado. Quem me acompanha aqui no blog sabe porque: a iluminação dos prédios históricos de BH é uma das bandeiras que mais defendi até hoje. Mas eu ainda não tinha visto o resultado à luz do dia e não perdi tempo. Já no sábado seguinte ao término da obra fui até lá para conferir os detalhes. Alvenaria em tijolos à vista, portas e janelas em arco e sacada frontal com guarda corpo trabalhado, eu estava diante de uma verdadeira joia arquitetônica. E de um projeto de restauração à altura: observem que os prédios vizinhos (avenida Brasil), foram pintados em tom tijolo, o que deu ao conjunto uma interessante ideia de continuidade. Só uma coisa me intrigava: como é que, passando pelo local todos os dias, eu nunca havia reparado no prédio antes da restauração? Quem desvendou o mistério foi um dos comerciantes que encontrei do outro lado da avenida naquele sábado: “antigamente este imóvel pertencia a uma família italiana, mas com o tempo foi tão modificado que ficou praticamente irreconhecível”. Vejam a imagem de setembro de 2015 e tirem as suas conclusões. Gostei do que vi. Mas o dever me chamava e sai Brasil afora até Floriano Peixoto, a praça, onde fiz a minha caminhada da vez. Não sem antes explorar outras atrações pelo caminho. Descobri que mais adiante, na avenida Brasil, tem galeria de arte que remete aos famosos pátios da Andaluzia, tem roda de samba com torresmo de barriga, tem… Mas isso é pano pra outra manga. Aguardem! Foto de abertura: R. Gusman

Um domingo na Praça da Liberdade

Domingo desses fui caminhar na Praça da Liberdade. Pela nonagésima nona vez, eu acho. Dia ensolarado, friozinho de julho, tudo de bom. O único porém é que não pude compartilhar aquele momento com a adorável companhia de sempre. Lude, fã de desenhos animados, ficou no CCBB para assistir à concorrida exposição Dreamworks Animation. Foram 50 minutos de caminhada, 50 minutos explorando cada centímetro da praça em busca de novidades. O Edifício Niemeyer, um dos maiores legados do genial arquiteto à cidade de Belo Horizonte, está novinho em folha. Sua fachada acaba de passar por criteriosa reforma. Dá gosto ver. O belíssimo prédio do CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, de portas abertas ao público infantil (e adulto), era um agito só. A temporada de Dreamworks Animation nem havia terminado e já batia o recorde de bilheteria da casa.     O imponente “Prédio Verde”, o único representante dos neoclássicos da praça que ainda não foi ocupado, finalmente terá uma destinação à altura. Está sendo restaurado e irá abrigar a Casa do Patrimônio de Minas Gerais. O antigo prédio do IPSEMG está quase pronto para receber a Escola de Design da UEMG. Sua ocupação pelo público universitário, principalmente no período noturno, irá trazer vida nova àquele pedaço, que durante muitos anos foi relegado ao esquecimento. O Palácio da Liberdade ficou mais próximo da praça. Agora, uma faixa de pedestres elevada (em paralelepípedo) os interliga. De certa forma, meu sonho de integração palácio-praça vai aos poucos se concretizando. Como se não bastasse, naquele domingo o roxo dos ipês invadia o céu marazul de Belo Horizonte e as fontes jorravam sobre o verdenovo do Lago do Coreto. Incontinente, levei a mão ao bolso em busca do celular, mas celular não havia lá. Havia ficado em casa. Fazer o que? pensei com meus botões. Encontrei a Lude em frente ao coreto. Ela disse que havia desistido da exposição por causa da fila e aproveitado para tirar algumas fotos da praça. Eu disse maravilha! E contei a história do celular… Depois, em casa, juntei às minhas recordações as fotos que ela tirou e aí está o resultado. Gostei!

O Parque Municipal visto com outros olhos

Passei por um perrengue danado recentemente. Conjuntivite brava. Uma semana de molho, sem sair de casa. Quando melhorei, a primeira pergunta que me ocorreu foi aonde vou caminhar? Era domingo e o sol estava de rachar. Eu ainda não podia ficar exposto à luminosidade excessiva e acabei optando pelo Parque Municipal. Fomos eu e Lude, minha esposa. Entramos pela portaria da avenida Carandaí e enveredamos por nossa trilha favorita, a que segue paralela à Alameda Ezequiel Dias: Largo da Gameleira. Finda a trilha, seguimos pela Alameda das Paineiras até o Lago do Quiosque, passamos em frente ao inacabado Espaço Multiuso (antigo Colégio Imaco) e chegamos à Ponte Seca, que tem este nome porque antigamente fazia a travessia do Córrego Acaba Mundo, hoje canalizado. Daí partimos para o primeiro giro: Alameda das Sapucaias até o Teatro Francisco Nunes, Alameda do Pau Rei até as proximidades do Palácio das Artes e Alameda das Palmeiras até a portaria Ezequiel Dias. Depois veio o segundo giro: Alameda do Pau Mulato, acesso ao Orquidário, acesso à portaria Andradas, Lago dos Barcos (volta completa) e Alameda dos Fícus até o Lago dos Marrecos.    Lago dos Barcos (foto do autor) Na Alameda do Pau Mulato, destaque para a árvore que dá nome ao logradouro, que naquele dia exibia uma incrível coloração de cobre. Segundo a administração do Parque, o pau mulato “tem um ciclo anual de coloração que começa em verde musgo, vai escurecendo e tornando-se avermelhado até atingir um forte tom de cobre”.   Mas a surpresa maior estava reservada para o final. Decidimos voltar ao Lago do Quiosque para tirar algumas fotos e acabamos descobrindo, lá nos fundos, uma réplica da famosa escultura Vitória de Samotrácia, uma das maiores atrações do Museu do Louvre em Paris. Réplica da Vitória de Samotrácia no Parque Municipal de Belo Horizonte (foto do autor) Eu não diria que o impacto que sentimos diante da réplica foi o mesmo que sentimos diante da Vitória de Samotrácia original. Seria exagero. Diria, no entanto, que foi uma agradável surpresa, algo que despertou a nossa curiosidade. Terminamos a caminhada e ao chegar em casa fomos direto à internet. Ficamos sabendo que a réplica belo-horizontina foi instalada em 2008, em comemoração aos 110 anos do Parque e o mais importante, encontra-se devidamente autenticada pela Réunion de Musées Nationaux, instituição que administra os principais museus franceses.  Quanto à escultura original, supõe-se que tenha sido esculpida por volta do ano 200 a.C. como representação da deusa grega Nice, a deusa da Vitória, e que fazia parte de uma fonte em forma de proa de embarcação. Foi descoberta por um arqueólogo francês na ilha de Samotrácia (Grécia) em 1863 e adquirida pelo museu do Louvre em 1864. Vitória de Samotrácia – Escultura original (Foto: Maria Tereza Horta) É considerada a mais significativa escultura remanescente do período helenístico, apesar de incompleta (faltam-lhe a cabeça e os braços, que até hoje não foram encontrados).    Como vocês viram, uma conjuntivitezinha de vez em quando não faz mal a ninguém. Depois que passa, a gente vê o mundo com outros olhos. Literalmente! Foto de abertura: o Parque Municipal visto de cima (crédito: Google Imagens) Mais fotos? Veja a seguir:

Missa na Matriz

Domingo é dia de pescaria, certo? Depende. Se você mora à beira de lago ou rio e tem caniço e samburá, pode ser. Mas se mora na cidade não tem erro: domingo é dia de missa na matriz. No meu caso, se for o segundo domingo do mês, é dia de levar a esposa à Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Neste dia ela é a pianista responsável pela música da missa das onze. Às vezes assisto à missa, mas confesso que ando meio afastado dos ofícios religiosos. Não que eu seja um herege. É que às vezes a proximidade com o Criador é maior quando estou caminhando… No último domingo não foi diferente. Parei o carro no estacionamento da igreja, deixei a pianista junto ao coral e fui caminhar. Depois de algumas voltas ao redor da igreja e de muito sobe e desce, sai em busca de outras paragens.    Desci Alagoas em direção à Afonso Pena. Feira de Artesanato. Muito movimento, muita gente atravancando o caminho. Subi Guajajaras e virei à direita na Goiás, imaginando que no trecho entre a Praça Afonso Arinos e a rua da Bahia eu iria encontrar o que procurava. Não encontrei. Por lá também o movimento era intenso. Acabei subindo João Pinheiro em direção à Praça da Liberdade e não me arrependi. Logo no segundo quarteirão, uma surpresa: a nova pintura do Museu Mineiro. O ocre com detalhes em branco valorizou ainda mais o prédio. Uma beleza! Depois foi a vez do Arquivo Público Mineiro, que funciona bem ao lado. A pintura não é tão recente, mas está muito bem conservada e o contraste entre o amarelo e o ocre do prédio vizinho não deixa de ser interessante. No quarteirão seguinte, parei para fotografar a escola que leva o nome do 6º presidente do Brasil, o ilustre mineiro de Santa Bárbara, Afonso Augusto Moreira Pena. Escola Estadual Afonso Pena. Clica daqui, clica dali, enquanto eu buscava o melhor ângulo para as fotos ouvi alguém dizer você também estudou aqui? Era Edwin, um ex-aluno da escola que vinha descendo a avenida com sua Heloísa. Casal simpático, logo nos identificamos. Expliquei a eles que não estudei naquele estabelecimento, que estava apenas fotografando o prédio, um belo exemplar da arquitetura dos primórdios da capital. Disse-lhes que gosto de fotografar os prédios antigos da cidade, pois me trazem recordações da minha infância não longe dali, no Edifício Teodoro, Afonso Pena esquina de Tupinambás. Edwin, dois anos mais novo que eu, disse que também morou na região, primeiro na avenida Amazonas, em frente ao Edifício Levy, e depois na rua São Paulo, Edifício Vila Rica. Foi o início de um bate papo superinteressante em que recordamos a nossa infância no centro da cidade, falamos de bondes e trólebus, do Parque Municipal e dos cinemas que marcaram aquela época: Jacques, Metrópole e Acaiaca, entre outros. O papo foi tão interessante que perdi a noção do tempo. Uma hora de caminhada (bate papo?), uma hora de missa. Hora de voltar. Cheguei esbaforido, imaginando que a pianista estaria na porta da igreja esperando o marido. Que nada! O celebrante ainda estava no ofertório e pelo andar da carruagem ainda levaria uma boa meia hora para terminar o ofício. O jeito foi continuar a caminhada e terminar a sessão de fotos. Não sei se por obra do Divino Espírito Santo ou por intercessão de Nossa Senhora da Boa Viagem, o fato é que olhei para o alto e vislumbrei as torres da Sagrada Família de Gaudí, tal qual eu havia visto em Barcelona 5 anos atrás. Ainda peguei o finalzinho da missa. O celebrante exortava os fiéis a seguirem o exemplo da Sagrada Família. Eu disse Amém! Foto de abertura: Marco Paulo Bahia Diniz Demais fotos: José Walker

Domingo cedo na Floresta

Domingo às oito da manhã tem quase ninguém na rua. Dá pra fazer coisas que em outros dias da semana seriam inimagináveis, como caminhar no asfalto evitando os obstáculos das calçadas, tirar fotos sem interferência dos carros, curtir a paisagem. Foi neste horário que sai de casa no último domingo. Sem rumo certo. Flanei pela rua Curvelo e mais adiante pela avenida do Contorno nas proximidades da Igreja Nossa Senhora das Dores curtindo a tranquilidade do bairro Floresta naquela manhã ensolarada. Depois, cruzei a avenida Assis Chateaubriand e acabei encontrando, sem querer, o meu destino: rua Marechal Deodoro. Conhecem? Se não conhecem, não se avexem. Quase ninguém conhece. Aliás, quase ninguém tem tempo de ficar zanzando por aí em busca de ruas perdidas no meio do caos urbano, não é mesmo? Explico: a Marechal Deodoro é aquela simpática rua que começa na Contorno e termina na Francisco Sales. Cheia de casas. Cheia de vida. Tem casa verde, casa rosada, casa azulada. Todas muito bem conservadas. Mas esses atributos não são exclusivos da Marechal Deodoro. As vizinhas Aquiles Lobo, Brasópolis, Mucuri, José Pedro Drummond e Silva Ortiz também não ficam para trás. Quem passa pela região tem a impressão de que há uma disputa entre os moradores para eleger quem cuida melhor do seu pedaço. E a disputa é acirrada. Vi morador cuidando de jardim, consertando portão de garagem, varrendo calçada. E a região tem mais: topografia favorável, calçadas largas e arborizadas, pouco trânsito de veículos. Tudo que o cidadão precisa para fazer uma boa caminhada. Praça? Tem também. Praça do Lyons. Brasópolis com Mucuri. Pracinha. Três árvores, quatro bancos de concreto, um pedestal sem estátua. Placa indicativa nenhuma. O nome do logradouro quem informou foi antiga moradora que passava pelo local e me viu tirando fotos. E disse mais a moradora, apontando com o indicador direito para a rua Mucuri: “logo adiante você vai encontrar uma floricultura; é lá que morou o Ronaldo Fraga”. Não encontrei a floricultura, mas não foi difícil encontrar a ex-residência do famoso estilista. Caminhando na direção indicada cheguei a uma casa cuidadosamente restaurada e logo identifiquei o estilo inconfundível do antigo proprietário. Mucuri, 325. A “floricultura” a que se referiu a moradora é, na verdade, o Amadoria. Pesquisei na internet: “espaço de vivências e convivências de autoconhecimento, arte, amor e bem-estar”. Em frente ao Amadoria uma namoradeira me espreitava da janela. Fotografei. Ela nem percebeu… Já estava na hora de voltar pra casa. Mas ainda tive tempo de matar uma curiosidade. Descobrir o nome do artista que pintou o mural representando divindade Inca ou algo parecido na esquina de Aquiles Lobo com Francisco Sales: Alvim Fhero Comum Hyper. Eu acho. É o que está escrito naquelas letras de grafiteiro no canto superior esquerdo. Resumo da ópera: sai de casa sem rumo, voltei arrumado. Arrumei um novo local para as minhas caminhadas de fim de semana. Quer ver mais fotos? Aí estão:

Santa Tereza, a esquina do mundo

Manhã dessas fui caminhar no Santa Tereza. Tradicional bairro da Zona Leste de Belo Horizonte, Santê, como dizem os habitantes do lugar, tem muita história pra contar. Iniciei a caminhada na Hermilo Alves, porta de entrada do bairro. Subi a rua observando o casario, o trânsito, as pessoas que encontrava pelo caminho. No 275A, semelhando entrada de garagem com portão e cadeado, uma surpresa. Lá no fundo, a modo de vila do interior, uma ruazinha de pedras, onze casas. Vila Ivone. Tombada pelo Patrimônio Cultural em 2003, a Vila foi construída no início do século passado por um casal de imigrantes portugueses. Onze filhos, uma casa para cada filho.   Mas quem sobe a rua Hermilo Alves ainda não tem uma ideia precisa do que é o Santa Tereza. O bairro começa a se revelar mesmo é a partir da rua Mármore. Em seu primeiro trecho a rua tem casas antigas, pequenos sobrados e alguns pontos comerciais. Depois vem a abertura para a Praça Duque de Caxias. Lá estão a Igreja de Santa Tereza, o novo Cine Santa Tereza e o Bar do Bolão, que desde 1961 vem salvando o fim de noite de muita gente com seu famoso espaguete. Nos dois quarteirões seguintes a rua Mármore mantém quase as mesmas características do trecho inicial. Ainda se vêm casas antigas e sobrados, mas o forte ali é o comércio. É o centro do bairro. Mais para o final a rua sofre uma descaída até a estação do Metrô e se torna exclusivamente residencial. Mas não cheguei até lá. Virei à esquerda na rua Dores do Indaiá, novamente à esquerda na Paraisópolis e na esquina de Divinópolis encontrei o que queria:  “Noite chegou outra vez De novo na esquina os homens estão Todos se acham mortais Dividem a noite, a lua, até solidão Neste clube a gente sozinha se vê Pela última vez À espera do dia naquela calçada Fugindo de outro lugar”.     Gravada em placa de metal, a letra da música Clube da Esquina nº 1 emociona. É como se ali estivessem Milton, Marilton, Márcio, Lô, Ronaldo, Fernando, Beto, Toninho, Wagner, Tavinho e outros sonhando acordados, esperando que “janelas se abram ao negro do mundo lunar”. Clube da Esquina. Reverenciei aquela molecada que revolucionou a música brasileira ao misturar Bossa Nova, Jazz e Rock com poesia e ganhou o mundo com seu canto. Depois subi a ladeira da Paraisópolis até o Bar Museu Clube da Esquina, onde em noite memorável eu e minha esposa, acompanhados dos casais Luiz Henrique e Mônica, Eduardo e Valquíria viajamos no tempo com Marilton e seu filho Rodrigo através das velhas sempre novas canções do Clube. Com direito a canja do poeta Murilo Antunes. Mas a minha turnê por Santê ainda não havia terminado. Deixei a lendária esquina de lado, desci a rua Divinópolis e virei à direita na Alvinópolis. Continuei descendo até a pizzaria Parada do Cardoso, cujo nome remete a antiga estação de trem que existia no local. Uma das melhores pizzas de BH.  Eram dez e meia da manhã. Como a pizzaria só funciona à noite, o jeito foi seguir adiante. Segui Conselheiro Rocha até Silvianópolis, virei à esquerda e subi até o Birosca, piano-bar onde costumam se apresentar músicos da mais alta qualidade.   Hora de voltar. Enveredei por outras ruas, outros caminhos. Eu buscava referências a dois outros famosos grupos musicais que iniciaram sua carreira no bairro. Sepultura e Skank. Heavy Metal e Pop Music. Eu sabia do forte vínculo dos músicos do Santa Tereza com o Bar do Bolão e fui até lá para conferir. Fotos, pôsteres, recortes de jornais, discos de ouro e outras referências a ambos os grupos estão espalhados por todo lado. Só não consegui descobrir em que lugar exatamente um e outro haviam ensaiado os primeiros passos. Eu já tinha ouvido falar que o Sepultura começou na garagem da casa onde moravam os irmãos Cavalera. Mas onde fica a tal garagem, se é que ainda existe? Quanto ao Skank, suponho que o grupo tenha ensaiado os primeiros acordes na casa do tecladista Henrique Portugal, que morou na rua Tenente Vitorino, perto da Praça Duque de Caxias. Estive lá com minha esposa no final dos anos 80 (ou início dos 90) a convite do pai do músico, o também tecladista Maurício Portugal. Dúvidas à parte, o que sei é que voltei pra casa “com a roupa encharcada e a alma repleta de chão”. Já posso dizer “sou do Mundo, sou Minas Gerais”. Crédito da foto de abertura: Google Street View Mais fotos da caminhada pelas ruas de Santa Tereza? Veja a seguir:

Barragem Santa Lúcia

O Parque Barragem Santa Lúcia, cujo nome oficial é Parque Jornalista Eduardo Cury, está situado no início do bairro São Bento, região sul de Belo Horizonte. O local é parcialmente arborizado e bem movimentado, principalmente no período de 7 às 10 da manhã. Tem pista de caminhada em volta da lagoa (aproximadamente 900 metros). Facilidades: – Há quiosques para lanches; – A região é servida por 3 linhas de ônibus (8103, 8101 e 9101); – Há ponto de táxi nas proximidades. Pontos de atenção: – O local deve ser evitado à noite; – O local deve ser evitado em horários de sol a pino; Foto de abertura: José Mário Queiroga Mafra

Os 121 anos de BH (e do Parque Municipal)

12 de dezembro. Aniversário de Belo Horizonte. Abro o Portal do “Estado de Minas” na internet e dou de cara com a manchete: “Antigo campo do América Futebol Clube, a Alameda, vira novamente Parque” E vejam o que vem em seguida: “Com um belo discurso de inauguração, o prefeito de Belo Horizonte entregou ontem à população da cidade o trecho recuperado do Parque Municipal junto ao Viaduto da Avenida Francisco Sales, que durante décadas foi ocupado por um hipermercado. Na ocasião, o alcaide lembrou o plano original da nova capital de Minas Gerais, onde se previa uma área para o Parque Municipal correspondente a pelo menos três vezes a atual.   Lembrou ainda as mutilações que o verde sofreu ao longo dos anos para implantação de hospitais e outros espaços comerciais naqueles arredores, detendo-se no caso específico do novo espaço inaugurado que fora subtraído ao parque para se transformar em estádio de futebol para importante time da capital, o qual, em crise, o vendeu para uma rede de supermercados. Com a ação atual da prefeitura, a cidade não apenas resgata importante espaço público, como repõe um grande número de espécimes vegetais muito importantes para atenuar as grandes alterações climáticas das últimas décadas.” O texto foi escrito pelo arquiteto Flávio Carsalade pensando numa futura manchete que BH merecia ganhar de presente de aniversário, um exercício de imaginação. Gostei. E aproveitando o convite do autor, acrescentei o meu próprio exercício de imaginação. Ficou assim: A inauguração do novo espaço faz parte de um projeto maior de resgate do Parque Municipal, que prevê ainda a recuperação da área ocupada pela Faculdade de Medicina da UFMG e da área onde se encontram duas edificações abandonadas na esquina da avenida Alfredo Balena com a alameda Ezequiel Dias. Tais intervenções deverão ser concluídas em curto prazo, uma vez que a Faculdade de Medicina da UFMG acaba de ser transferida para o Campus da Pampulha e as duas edificações da avenida Alfredo Balena já estão sendo demolidas. No que diz respeito à Faculdade de Medicina só ficará de pé o belo prédio da antiga ocupação estudantil “Borges da Costa”, que será transformado em centro cultural destinado a preservar a memória de uma geração de estudantes que marcou época na política e cultura mineiras. Numa próxima etapa está prevista a recuperação dos terrenos situados entre a margem esquerda do ribeirão Arrudas e a linha férrea da antiga Rede Ferroviária Federal, desde a Serraria Souza Pinto, que será preservada, até a esquina das avenidas Andradas e Francisco Sales. O local será transformado em parque linear a ser integrado ao recém inaugurado Corredor Cultural da Praça da Estação. Estão previstas ainda diversas intervenções na parte baixa do bairro Floresta, destacando-se a transformação das ruas Itambé, Geraldo Teixeira da Costa, Aquiles Lobo e Conselheiro Rocha em alamedas de pedestres e a criação de áreas verdes onde se encontram hoje alguns prédios institucionais como o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, a 1ª Delegacia de Polícia Civil, o Serviço de Acolhimento à População de Rua e a Transfácil. Utopia? Pode ser. Mas o fato é que a matéria do Carsalade me fez um bem danado. Afinal, eu também venho defendendo a tese de recuperação do Parque Municipal. Lembram-se do artigo que publiquei em novembro de 2016, intitulado Parque Municipal de Belo Horizonte: o maior parque urbano da América Latina? Pois bem, agora não estou sozinho. Estou otimista. Já antevejo o dia em que a manchete acima deixará de ser exercício de imaginação e se tornará notícia de fato. E poderemos caminhar tranquilamente pelo novo Parque Municipal. Até lá, a gente vai plantando as sementes. E viva Belo Horizonte! Foto de abertura: o Parque Municipal em 1910 (fonte: BH Nostalgia/Belo Horizonte: de Curral del Rei à Pampulha) Foto da antiga ocupação estudantil “Borges da Costa” e outras relacionadas ao artigo? Veja a seguir:

Alameda da Liberdade

O domingo prometia. Céu limpo, sol de primavera. Peguei o carro e segui em direção à Savassi. Minha ideia era caminhar por lá, já que nos domingos as duas pistas da avenida Getúlio Vargas entre as ruas Rio Grande do Norte e Alagoas são fechadas ao trânsito de veículos. Mas era dia de provas do ENEM e como nessas ocasiões as atividades de lazer nas ruas de BH costumam ser suspensas, mudei de ideia e fui caminhar na alameda em frente à Biblioteca Pública, que aqui vou chamar de Alameda da Liberdade (acho confusa a denominação “Praça da Liberdade” como consta nos mapas). O local é plano, bem arborizado. Do jeito que eu gosto. Estacionei em frente ao prédio do Comando Geral da Polícia Militar, que fica ao lado da Biblioteca, e comecei a caminhar no sentido horário. Nos jardins da Biblioteca Pública, a primeira surpresa: flagrei, dirigindo-se ao grupo formado por Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos outro grande escritor mineiro, Murilo Rubião. Calma pessoal. O Pirotécnico Zacarias não veio se juntar aos Quatro Cavaleiros do Apocalipse de corpo e alma (os cinco já partiram desta). Eu me refiro às esculturas em homenagem aos ilustres escritores, criadas pelo artista plástico Leo Santana, expostas no local. Esculturas do artista plástico Leo Santana em frente à Biblioteca Pública – em primeiro plano a escultura do escritor Murilo Rubião (foto: José Walker) Justa homenagem, diga-se de passagem. Mas eu ainda tinha muito chão pela frente. Deixei a intelectualidade mineira em seu habitat e atravessei a rua. Do lado de lá, outra surpresa. Estão criando uma faixa de pedestres em calçamento poliédrico entre o portão de entrada do Palácio e a Praça da Liberdade. Não é exatamente a solução que eu imaginei (e já apresentei aqui no blog) para integrar palácio e praça, mas é um bom começo. Fui até lá. Conferi. Depois voltei à alameda da Biblioteca e segui rente ao gradil lateral do Palácio da Liberdade em direção à rua da Bahia. Apreciando de perto os belos jardins do Palácio. Privilégio de quem está sempre em busca de novas rotas de caminhada. Jardins do Palácio da Liberdade vistos da Alameda da Liberdade (foto: José Walker) Continuei em frente. Eu já não via o Palácio e sim o muro do Palácio. Uma pena! Poderiam ter estendido o gradil até mais adiante, de forma a não interromper a visão dos jardins. Mas nada é perfeito! Oxalá nada seja definitivo… Cheguei à Casa Fiat de Cultura. Dá pra ver, do lado de fora, o belo painel “Civilização Mineira” de Portinari. Criado em 1959, é o maior painel do artista em Minas Gerais (2,34 x 8,14 metros). Representa a mudança da capital mineira de Ouro Preto para Belo Horizonte. Atravessei novamente a alameda e lá estava a Praça José Mendes Júnior. Homenagem ao fundador da Construtora Mendes Júnior, que já foi uma das maiores empresas de construção pesada do Brasil. Praça José Mendes Júnior (foto: José Walker) A praça ocupa uma pequena área em frente ao prédio do Comando Geral da Polícia Militar, mas é bastante convidativa. Tem equipamentos de ginástica e jardins bem cuidados. Pronto. Estava completa a primeira volta da caminhada. Depois foram mais 11 voltas até completar os 50 minutos de praxe. Numa dessas voltas vi de relance, correndo ao redor da Praça da Liberdade, uma jovem. Ela corria junto aos tapumes, de costas para o fluxo de veículos, colocando em risco a própria vida. E o que é pior, usava fones de ouvido! Não fiquei tranquilo enquanto não a abordei. Sugeri a ela que fosse correr em outro local ou pelo menos que o fizesse contra o fluxo de veículos. Sabem o que ela disse? “Você tem razão, vou terminar esta volta e depois faço isso”. Pode? Foto de abertura: Divulgação SouBH

Caminhada da Independência

Feriado de sete de setembro. Sexta-feira. Fui caminhar na Sapucaí. A Sapucaí é uma rua particularmente interessante. Situada entre dois  importantes viadutos, em nível mais alto em relação ao centro da cidade, tem construções apenas do lado de cima, o que a torna um mirante natural e um ótimo local de caminhada. Normalmente começo minhas caminhadas na altura do viaduto da Floresta, vou até o viaduto Santa Tereza e volto ao ponto inicial, repetindo o trajeto três vezes, o que equivale a 3.600 metros de percurso aproximadamente. Naquela sexta-feira, porém, tive uma surpresa: no início da avenida Assis Chateaubriand militares se concentravam para o desfile e no viaduto Santa Tereza as pessoas caminhavam livremente. Carro nenhum. O viaduto estava fechado ao trânsito de veículos. Fiquei ali parado, observando aquela cena incomum, primazia do pedestre sobre o automóvel. Curtindo a posse, mesmo que efêmera, daquele território normalmente dominado pela máquina. Foi quando D. Consciência, sempre atenta, ordenou: vai caminhar vagabundo! Fui… Na volta pra casa resolvi passar pela rua Silva Jardim. E não é que valeu a pena? Partindo da esquina de Sapucaí, logo cheguei a um sobrado de 1922. Café Américo. Uma “fábrica aberta, uma micro torrefação de cafés especiais”. Lembrei-me de um fim de tarde que passei por lá com minha esposa. Ambiente superagradável, café delicioso. Aprovamos! Sobrado onde funciona o Café Américo (rua Silva Jardim 389) num fim de tarde No quarteirão seguinte, à direita, outro sobrado. Na janela do sobrado, duas namoradeiras do Vale do Jequitinhonha. Lembrei-me do rio, sinuoso e pedregoso Jequitinhonha. De uma ponte sobre o rio, uma subida íngreme e uma torre de igreja lá no alto. São Gonçalo do Rio das Pedras! Mais adiante, uma ruazinha. Estreita, daquelas que que só cabe um carro de cada vez. São Geraldo o nome dela. Liga Silva Jardim à Praça Zamenhoff. Isto mesmo… Zamenhoff. Aquela praça que fica em frente à Escola Estadual Barão de Macaúbas. Quase em frente à rua São Geraldo, outra construção antiga. Desta vez, um casarão. Sacada frontal. Dois andares. Varanda lateral no segundo andar. Detalhes em madeira no teto. Bem conservado. Ainda bem! Casarão situado à rua Silva Jardim nº 116 Ao lado do casarão, a Igreja da Floresta. Nossa Senhora das Dores. A que Drummond viu “crescer à sombra do Padre Arthur” e mais tarde criticou por ter permitido a abertura de “caderneta de poupança, loja de acessórios para carros, papelaria, aviário, pão de queijo”. “Triste Horizonte” o nome do poema. E por falar em Drummond, não foi sem conhecimento de causa que ele escreveu o seu “Triste Horizonte”. Foi bem ali, no 107 da Silva Jardim, que ele morou de 1920 a 1934. Procurei a casa do poeta, não encontrei. Em seu lugar encontrei um prédio. Na entrada do prédio, apenas uma placa em sua homenagem. Mas a frustração durou pouco. Deixei para trás o espectro de Drummond e dei de cara com uma pracinha. Livros espalhados por todo lado. Regando as plantas, Estella Cruzmel, cuidadora da pracinha e idealizadora do Projeto Santa Leitura. No meio da pracinha, vestido de calça jeans, um boneco. Da cintura para cima, plantas. O que significa, perguntei. “Quero chamar a atenção para a importância de preservar o verde das nossas praças”, Estella respondeu. Voltei pra casa convencido de que nem tudo está perdido! Era feriado. Feriado de sete de setembro. Sexta-feira. Santa leitura para todos nós. É disso que estamos precisando! Foto de abertura e demais fotos: José Walker Mais fotos? Veja aqui.