Da Floresta ao Centro via Francisco Sales

Precisava comprar dobradiças para os armários da cozinha aqui de casa. Era sábado. Oito da manhã. Da Floresta, onde moro, ao final da rua Tamoios, onde estão concentradas as lojas que eu pretendia visitar, é um pulo. Naquele sábado, porém, quem comandava as ações eram meus pés. Só atinei pela coisa quando me vi descendo a toda a avenida Francisco Sales. Aí já era tarde para mudar os rumos da história e o jeito foi seguir adiante. De repente, ops! Cadê o mural que figurava aqui? Eu havia chegado à esquina de Aquiles Lobo e fiquei surpreso ao encontrar ali um substituto. Mas tudo bem. O novo mural, assinado pelo artista Hyperaton, é um belo trabalho. Retrata um índio cavalgando animal alado em região desértica com disco voador ao fundo. Surreal. Mural do artista Hyperaton na esquina de Aquiles Lobo com Francisco Sales Mas a história não parou por aí. Logo adiante, ocupando toda a fachada do hipermercado que recentemente fechou as portas, mais um mural. Figuras humanas em azul e vermelho. Umas com máscara, outras desnudas. No canto inferior esquerdo, a assinatura Onelove. O artista talvez não saiba, mas o local onde apôs a assinatura já delimitou, antes do hipermercado, o antigo campo do América e muito antes, um parque. Isso mesmo: nos primórdios da capital, o Parque Municipal incorporava não só a área do antigo hipermercado, mas toda a área adjacente, incluindo os hospitais e parte do bairro Floresta. Fiquei ali parado, asas à imaginação… Agora que o hipermercado se foi, bem que podiam demolir o prédio e implantar um novo parque no local, resgatando, ao menos em parte, o verde original. Mas os meus pés não queriam saber de conjecturas. Já dobravam a esquina de Alfredo Balena e não tive outra alternativa senão acompanhá-los. Passamos pelo Hospital das Clínicas e atravessamos a avenida. Eu tinha bons motivos para evitar a calçada dos hospitais. Do outro lado, a Escola Estadual Pedro II e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Aí sim. A escola, uma bela construção da década de 40. A igreja, projetada em 1901, a segunda mais antiga da capital. Fiquei tão absorto que custei a perceber, lá no fundo, o céu de chumbo. Chuva? Igreja do Sagrado Coração de Jesus na avenida Alfredo Balena Desci Carandaí de um fôlego só e desembarquei na avenida Afonso Pena. Desta vez, os atrativos da nossa bela avenida não me detiveram. Cheguei rapidinho à Igreja São José. Passei os olhos pela fachada – cores originais restauradas – e virei à esquerda. Subi Tamoios. Na esquina da avenida Amazonas, a igrejinha do Rosário, esta sim a mais antiga de Belo Horizonte. Foi erguida um pouco antes de 1897 pela Comissão Construtora da Nova Capital, em substituição a uma capela que existiu próximo à esquina de Bahia com Timbiras, no antigo arraial do Curral Del Rei. Daí em diante, foi a reta sem fim de Tamoios. Cheguei esbaforido às lojas de ferragens, acompanhado dos primeiros pingos de chuva. Deu um pouco de trabalho a instalação e regulagem das dobradiças, mas valeu a pena. As portas dos armários estão funcionando que é uma beleza!