A vizinhança de Bernardo Monteiro

Quinta-feira, feriado de Corpus Christi. Pensei comigo mesmo vou caminhar num local tranquilo, sem aglomeração. E me mandei para a avenida Bernardo Monteiro. Mas não gostei do que vi. Sabe aquela agitação das manhãs de sábado? Era tal e qual. Meio perdido, sem entender o porquê daquele inusitado movimento em pleno feriado, fiquei zanzando por lá, cogitando. Acabei caindo de paraquedas, Deus sabe como, na esquina de Ceará com Gonçalves Dias. Eu havia encontrado o meu lugar. Sem pressa, curtindo o friozinho de junho sob o sol da manhã, me deixei levar Ceará abaixo. Em frente ao 1323, a primeira parada. Casa antiga. Três janelas em arco e alpendre lateral. Merece um trato. Ao lado, no 1305, um digno representante da arquitetura modernista. Pano da fachada principal em azulejos artísticos e cores vivas nas demais fachadas: Edifício Le Corbusier. No quarteirão abaixo, a bela casa onde Ronaldo Fraga instalou o seu Grande Hotel é atração à parte. Lembrei-me do fim de tarde em que lá estivemos eu e Lude, cerca de dois anos atrás. Café num dos ambientes internos. Memorável. Grande Hotel Ronaldo Fraga à rua Ceará 1205 Só depois da sessão de fotos é que percebi, na calçada, uma árvore diferente, estilizada. Em aço. Ao lado, a informação “releitura da intervenção urbana do artista americano Robert Irwin”. Pesquisei na web. Robert Irwin “explora a relação da percepção na arte por meio de ambientes imersivos em instalações que alteram a experiência física, sensorial e temporal”. Complicado, né? Mas tem jeito de decifrar. É só dar um pulo no Inhotim, onde o artista expõe um de seus trabalhos. Mas retomemos a nossa caminhada. Nas ruas Piauí e Maranhão, dois bons exemplos de preservação do patrimônio histórico ao jeitinho brasileiro: permite-se a construção de novas edificações em terrenos onde existam imóveis de valor histórico, desde que os mesmos sejam preservados. Menos mal. Na rua Piauí, foi o caso de uma sequência de casas antigas. Quatro de uma só vez. Devidamente restauradas durante a construção dos edifícios Vintage Design Residence e Retrô Design Residence. Gostei mais da que leva o número 1052. Entrada do Edifício Vintage Design Residence à rua Piauí 1052 Já na rua Maranhão, a moeda de troca foi uma belíssima casa dos primórdios da capital (foto de abertura). Preciosidade. Imagino que tenha sido construída por volta de 1910. Ponto para os construtores do Edifício Karina Barakat, que capricharam na restauração. Mas o tempo urgia. Eu havia percorrido apenas parte do trajeto planejado. Ainda faltavam as ruas Timbiras, Aimorés e Bernardo Guimarães. Foi aí que me lembrei de comentário do amigo Carlos Perktold sobre casa antiga na rua Aimorés. Fui lá pra conferir. A casa leva o número 500 e está situada ao lado de um posto de combustíveis. Segundo Perktold – o comentário é de setembro de 2019 – “o imóvel está abandonado pelo dono, provavelmente porque foi tombado e se for restaurado vai surpreender a todos, tamanha é sua beleza”. De fato, a casa é uma beleza. A boa notícia é que foi restaurada e está novinha em folha. Casa antiga à rua Aimorés 500 Gostei da experiência. Não fosse a agitação da avenida Bernardo Monteiro, eu não teria feito uma caminhada tão interessante. Pena que Timbiras e Bernardo Guimarães tenham ficado para outra ocasião. Paciência, nem tudo é perfeito.