Em artigo que publiquei anteriormente eu explico como, ao imaginar uma rota turística a pé pelo centro de Belo Horizonte, acabei esbarrando no Edifício Sulacap dos meus tempos de criança.
O assunto repercutiu e agora vou compartilhar com vocês alguns fatos interessantes que descobri a respeito deste verdadeiro ícone da arquitetura belo-horizontina.
A Praça Tiradentes
O que chamou a minha atenção logo de cara é que, originalmente, nenhuma construção estava prevista no local onde se encontra o prédio do Sulacap. O terreno fazia parte de uma área não edificável e era destinado à implantação de uma praça, a Praça Tiradentes.
A praça seccionaria a avenida Afonso Pena e incorporaria, além do terreno do Sulacap, o terreno onde se encontram hoje o Edifício Guimarães, o Castelinho e a Garagem São José, entre outras edificações.
Detalhe da planta original da cidade de Belo Horizonte, elaborada pela Comissão Construtora da Nova Capital em 1895, com indicação da Praça Tiradentes (Fonte: APCBH / CCNC).
Entretanto, a Praça Tiradentes jamais saiu do papel. Ao que tudo indica a Prefeitura desistiu de sua implantação, pois já em 1904 – apenas 7 anos após a inauguração da capital – iniciava-se no local a construção do prédio da antiga sede dos Correios.
O prédio dos Correios
Seguindo o estilo neoclássico que predominava na época, o prédio dos Correios, pela imponência e riqueza de detalhes, era considerado um dos mais belos da cidade, como se vê na foto abaixo.
Fonte: curraldelrei.blogspot.com.br/Arquivo Público Mineiro
O “Palácio dos Correios”, como o chamavam, era de fato uma preciosidade, uma verdadeira obra de arte. Mas os administradores da época não pensavam assim e por volta de 1940, infelizmente, deitaram-no abaixo.
O Edifício Sulacap
No lugar do prédio dos Correios surgia, em 1946, o Conjunto Sulamérica-Sulacap (Edifício Sulacap), projetado pelo arquiteto Roberto Capello. Distribuídas simetricamente em relação ao terreno, duas torres iam, aos poucos, despontando na paisagem.
De acordo com Karine de Arimateia e Marco Valério Vinhal, “a implantação dos edifícios foi pensada de maneira a manter uma área não edificada entre eles, configurando uma praça que permitia o fluxo de pedestres entre o viaduto Santa Teresa – por meio de uma escadaria imponente – e a avenida Afonso Pena”.
Vista do Conjunto Sulamérica-Sulacap mostrando a área não edificada que existia entre os prédios – Fonte: arquitetosassociados.arq.br
Esta área não edificada, situada no plano da avenida Afonso Pena, se projetava no horizonte através de um vão livre que permitia o perfeito enquadramento da avenida Assis Chateaubriand, situada aos fundos, em plano inferior. Era uma das vistas mais interessantes da cidade!
Infelizmente, na década de 70 a Prefeitura permitiu a construção de um anexo comercial no local, o que desfigurou completamente o projeto original.
Este anexo ou puxadinho, como queiram, além de ocupar o que antes era um espaço público, foi construído em completo desacordo com o restante do conjunto e o que é pior, obstruiu a bela visada que se tinha da avenida Afonso Pena.
Hoje o Sulacap é tombado pelo município. Quanto à demolição do puxadinho, segundo reportagem de VejaBH, “entre notificações do Corpo de Bombeiros, intervenção do Ministério Público, processos judiciais e resistência dos lojistas, nenhum projeto saiu do papel” (a reportagem é de 2014).
Aí estão os (f)atos. Os feitos e os de(s)feitos. Para reflexão!
E já que é para refletir, termino com a pergunta formulada pelo arquiteto Carlos Alberto Maciel: “alguém sabe onde fica o cruzamento entre as avenidas Afonso Pena e Assis Chateaubriand?”
Respostas de 2
José Walker: A partir de 1956, trabalhei no prédio da Sul América, à esquerda. Muitas vezes, fiz compras nas lojas que havia na galeria. Antes de existir o Sulmérica/ Sulacap, realmente havia ali o prédio dos correios. Pude conhecê-lo por dentro, quando acompanhava meu pai postando cartas. Que saudade!
Um abraço do Eduardo.
Caro Eduardo,
Veja que bela a descrição do antigo prédio dos Correios feita pelo Pedro Nava:
“O prédio ocupado pelo antigo Correio era uma linda edificação que ficava dentro do triangulo formado por Bahia, Tamoios e, à frente, pela avenida Afonso Pena. Era róseo, de arestas pintadas de branco, alternando largos janelões com elegantes janelas estreitas. Tinha porão habitável, dois pisos e seu maior requinte estava no vestíbulo, cuja altura era a dos seus dois andares juntos. Entrava-se pela repartição postal pela avenida Afonso Pena e caía-se na doce luz do hall, tamisada pelas imensas clarabóias. Era grande como praça pública e servia para encontros de toda sorte, inculusive os de amor.”