Um sábado desses fui caminhar na Sapucaí. Normalmente sigo junto à balaustrada observando a linha de trem, a Praça da Estação, o (silencioso) movimento dos carros lá embaixo, mas naquele dia a minha atenção se voltou para o outro lado da rua, que havia reservado algumas surpresas para mim.

A primeira surpresa veio logo no início da caminhada. Novinho em folha, lá estava o sobrado do 127 que há pouco tempo atrás era só abandono e sujeira. Eu sabia que o sobrado havia sido restaurado, mas ainda não tinha visto o resultado.

Sobrado à rua Sapucaí após a restauração (foto: José Walker)

Gostei e aprovei!

O sobrado remonta aos primórdios da capital e merecia mesmo uma bela restauração. No local funciona hoje o Instituto Cultural Flávio Gutierrez, capitaneado por Ângela Gutierrez do Museu de Artes e Ofícios (BH) e do Museu do Oratório (Ouro Preto). Está em boas mãos.

A segunda surpresa veio quando eu passava em frente ao prédio da Rede Ferroviária Federal que fica na esquina da rua Tapuias, um digno representante do estilo eclético que predominou na Belo Horizonte da década de 20. Só que desta vez a surpresa foi negativa.

Por mais que me esforçasse, eu não conseguia enxergar outra coisa senão o abominável prédio que a própria Rede Ferroviária construiu a posteriori anexo ao prédio principal, como se vê ao fundo na foto abaixo.

Conjunto de prédios da Rede Ferroviária Federal na rua Sapucaí (foto: Jomar Bragança)

O que me deixou mais indignado é que além de destoar completamente do restante do conjunto, o anexo está colado em uma das alas do prédio principal e há indícios de que parte deste foi demolida na época da construção. Não duvido nada!

Mas não adianta chorar sobre o leite derramado. Agora, resta saber o que farão com aquela maravilha, quando forem instalar no local o Museu Ferroviário.

A terceira e última surpresa do dia foi o casarão do 303. Não é uma construção tão interessante, mas naquele dia estava interessante, pois enquanto um artista trabalhava na pintura do muro lateral, várias outras pessoas conversavam animadamente no jardim.

Fui até lá para conferir e descobri que trabalhavam no painel de uma grande cervejaria e que o casarão é a sede de uma escola superinteressante, a Perestroika – Escola Livre de Atividades Criativas. Mais um ponto para a Sapucaí.

Foi uma caminhada proveitosa, como vocês viram. O problema é que cheguei em casa e o anexo da Rede Ferroviária não me saia da cabeça. Cheguei a pensar na reestilização da fachada do prédio, como forma de adequá-la ao estilo eclético do restante do conjunto, mas a ideia não me convenceu de todo. O problema continuava sem solução!

Até que decidi levar a ideia da reestilização à artista plástica aqui de casa, minha esposa. Ela viu as fotos, refletiu um pouco e deu o seu veredicto: “não vai dar certo, seria mais interessante modernizar a fachada, criando um contraste com o restante da construção”.

Perfeito! Agora é torcer para que os responsáveis pela implantação do Museu Ferroviário sejam tão lúcidos quanto a artista plástica que consultei.

Enquanto isso, vamos curtindo a Sapucaí, que já tinha bons restaurantes e bares alternativos (Salumeria, Pecatore, Dorsé, Benfeitoria) e agora tem instituto cultural e escola de arte.

Foto de abertura: sobrado à rua Sapucaí visto do lado de dentro (arquivo Jornal da Floresta)

4 respostas

  1. Fiquei feliz com o resultado da restauração do casarão 127. Tenho boas lembranças de quando lá vivi de 1961 a 1965.

  2. Muito legal o artigo! Passo sempre pela sapucaí, mas não me atento tanto às construções ahah bem legal conhecer um pouco mais da história da nossa cidade. Parabéns!

    1. É isso aí Guilherme!
      BH tem muitas histórias para contar, mas para descobri-las é preciso caminhar pelas ruas da cidade.
      Obrigado pelo comentário.
      Abração!

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