Eu era muito pequeno, mas ainda me lembro do tempo em que pegava o bonde na rua Caetés para ir à missa no bairro Floresta com meus pais.

Do tempo em que as árvores cobriam a Afonso Pena…

Dos bons tempos em que o divertimento da garotada eram as gangorras e escorregadores, a roda gigante e os brinquedos do Parque Municipal.

bondebh_1902Linha nº 4, uma das primeiras linhas de bonde de Belo Horizonte (crédito: Google imagens)

Dos antigos carnavais dos blocos caricatos: Bocas Brancas da Floresta, Domésticas de Lourdes, Imigrantes da Abissínia, Leões da Lagoinha, Cacarecos do Santa Efigênia, Aflitos do Anchieta, Demônios do Calafate e por aí afora. Saudade!

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“Bocas Brancas da Floresta” em um dos carnavais de antigamente (Crédito: Jornal da Floresta)

Sou do tempo em que a cidade era pequena e quase tudo se fazia a pé ou de ônibus. E a pé ou de ônibus fiz o ginásio no Estadual da Serra, o científico no Estadual Central e a o curso de engenharia na UFMG.

Não sei se naquela época eu já tinha noção da importância de praticar exercícios físicos ou se era por economia mesmo, mas o fato é que caminhava bastante. E como nunca gostei de correr ou de fazer academia, continuo caminhando até hoje, aos 61 anos de idade.

É uma opção de vida. Deixo o carro em casa e faço a minha caminhada diária, ciente de que estou contribuindo com o trânsito, ajudando a preservar o meio ambiente e, de quebra, cuidando da saúde.

Mas até pegar o jeito não foi fácil!

Houve época em que eu me levantava cedo e caminhava antes de ir para o trabalho. Durou pouco tempo, pois além de madrugar eu acabava pegando o ônibus no pior horário e já começava o dia estressado.

Também experimentei caminhar à noite, depois de voltar pra casa após o trabalho, mas não deu certo. Sempre havia algo a fazer antes da caminhada e eu acabava desistindo.

Depois experimentei diversas formas de incluir a caminhada nos meus deslocamentos de ida para o trabalho e de volta para casa. Já fui a pé e voltei de ônibus, já fui de ônibus e voltei a pé. Também não deu certo.

Houve época em que eu saia do trabalho, descia a pé até as imediações da Praça da Liberdade e tomava o ônibus na João Pinheiro. Ou seguia Getúlio Vargas até a esquina de Ouro, onde tomava outro ônibus. Em ambos os casos eu esperava muito tempo no ponto e ainda pegava ônibus lotado. Além de chegar tarde em casa, eu chegava moído.

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Ônibus de Belo Horizonte em horário de pico (crédito: Google imagens)

Agora peguei o jeito!

Saio do trabalho, sigo Getúlio Vargas até Afonso Pena e na sequência pego Ceará, Brasil e Maranhão até chegar ao “Hospital Militar-1”, ponto de parada de ônibus na Contorno. Dali eu tomo o “Circular” em direção ao bairro Floresta e ainda caminho 800 metros até o prédio onde moro. No total são 4.500 metros de caminhada a passos largos e em ritmo acelerado.

E porque fiz esta escolha?

Porque passo pela Savassi, uma das regiões mais agradáveis da cidade e caminho quase todo o tempo em terreno plano. E também porque descobri que o “Hospital Militar-1” é um ponto de parada estratégico em relação ao metrô: lá os ônibus chegam lotados e se esvaziam rapidamente.

Mas se eu morasse no Eldorado ou em Venda Nova, por exemplo, faria o mesmo trajeto a pé e pegaria o metrô na Estação Santa Efigênia, que fica logo atrás do Hospital Militar.

E você, já pensou em deixar o carro ou a moto na garagem e fazer uma experiência deste tipo?

Se ainda não pensou, considere a possibilidade. Talvez você tenha que fazer algumas tentativas, mas não desista.

Até pegar o jeito…

10 respostas

  1. Quanto tempo o bloco bocas brancas da Floresta ficou em atividade? De quando a quando?
    Eu gostava muito desse bloco caricato e tenho boas lembranças.

    1. O “Bocas Brancas da Floresta” foi um dos primeiros blocos caricatos de Belo Horizonte. Surgiu em 1948. Não sei quanto tempo durou, mas com certeza ainda desfilava no início dos anos 60, quando eu tinha meus oito, nove anos e morava na avenida Afonso Pena. O bloco era uma das principais atrações do carnaval.
      Saudades!

  2. Parabéns, adorei tudo, imagens, texto, a ideia. Me deu até vontade de fazer este tour, apesar que minha área para caminhada é a Lagoa da Pampulha, que sempre amei, apesar dos pesares! Obrigada.

    1. Que bom que você gostou, Lucien.
      Não importa se na Savassi, em Santa Tereza ou na Pampulha. O importante é caminhar.
      Continue prestigiando o blog. BH agradece.
      Um abraço.

    1. Obrigado primo.
      Como você viu, até pegar o jeito não foi fácil. Mas valeu a pena!
      Forte abraço!

  3. Ótima matéria. Muito agradável ler suas postagens. A gente se sente caminhando com você. Um incentivo para quem tem pelo menos um pouco de disposição. Na próxima eu vou também!

    1. É isso mesmo, Lúcio.
      A ideia é incentivar as pessoas a caminhar e conhecer melhor a nossa BH.
      Obrigado pelo incentivo.
      Grande abraço!

  4. Caro amigo caminhante,

    Foi uma grata surpresa para mim. Ando meio cansado das mídias sociais, mas confesso que devo retomar o meu garimpo em busca de boas ideias e de bons textos como os seus.
    Fui saboreando os seus artigos que são leves, diretos, objetivos e inspiradores. Neles senti a valorização do espaço urbano e uma caminhada interior. Como BH é um conjunto de interiores, no sentido geográfico, revisitei as nossas origens e os nossos valores.
    Penso que na caminhada redescobrimos a nossa cidade e nos redescobrimos a cada dia.
    Como você, invento vários caminhos, assim tenho a oportunidade de observar com mais profundidade as pessoas e as coisas. A observação me leva à literatura. Até já escrevi sobre o tema em meu livro Mãos e poesias, numa referência à minha terra natal Virgem da Lapa.

    POESIAS E LIVROS

    Em minha terra,

    Não leio livros.

    Eu leio as pessoas.

    São contos, casos, poesias,

    Histórias ou mentiras,

    Verdades ou fantasias.

    Mas são, sobretudo,

    Viagens humanas.

    Os seus artigos são verdadeiras crônicas bem construídas com um olhar que vai além do observador, um olhar contemplativo e inspirador de mãos dadas com a criatividade.
    Revisitei prazerosamente vários pontos de BH. Gostei muito do seu tom poético em “Av. Bernardo Monteiro, sua nova pista de caminhada” e da ótima reflexão em “Natal”.
    Como não lamentar sobre o Conjunto Sulacap (“Da Feira de Amostras ao Parque Municipal…”).
    Finalizando, “Caminhar é cultura”. Virgem da Lapa e Belo Horizonte, duas cidades que se complementam dentro de mim.
    Vou tentar descobrir um caminho para do meu trabalho até “Pegar o jeito”.

    1. Caro amigo Luiz Carlos!
      Antes de mais nada, muito obrigado pelas palavras de incentivo.
      Neste mundo tão midiático em que a sensibilidade anda rara é muito gratificante encontrar pessoas como você. Saber que outros pensam e agem como nós é o maior incentivo que podemos receber.
      Gostei muito do poema em referência a Virgem da Lapa, sua terra natal: “Em minha terra, não leio livros. Eu leio as pessoas…”
      Continuemos nessa toada.
      Juntos somos mais.
      Grande abraço!

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