Um dia no Parque das Mangabeiras

Estava fazendo aniversário na minha lista. O Parque das Mangabeiras. Dia desses, finalmente. Aproveitei os bons fluidos do Ano Novo, quando bate aquela vontade de saldar velhas dívidas, e lá fui eu. Desci do 8150 a dez passos da Portaria Caraça, antiga entrada da Ferrobel, mineradora que povoou de explosões e pó de minério a minha infância na rua Serranos. Logo após a portaria, estacionado, o micro-ônibus que faz o transporte interno do Parque. Perguntei ao porteiro. Acabou de sair um, foi a resposta. Esse aí, apontou o veículo estacionado, só daqui a quarenta minutos. Eu tinha pela frente uma ladeira de mil e oitocentos metros. Paciência… Subir a pé. Lembrei-me dos meus tempos de engenheiro da SLU, quando fui designado para implantar o Plano de Coleta de Resíduos do Parque, prestes a ser inaugurado. Naquela época – corria o ano de 1982 – com apenas vinte e oito janeiros nas costas, eu subia o morro brincando, mas hoje, quarenta janeiros depois…  Subi devagarinho, no ritmo do coração. O verde das árvores em contraponto ao cinza do céu era algo indescritível. Só vendo. Estrada da Ferrobel nas proximidades do Portão Caraça Logo após a primeira parada de ônibus, um burburinho. Apurei os ouvidos. Eu sabia que encosta abaixo havia um lago. Não pude vê-lo. Árvores toldavam a minha visão, mas a imagem dos anos 80 me acorreu imediatamente. Quedas d’água vertendo numa pequena represa: Lago dos Sonhos. Mas eu não sonhava sozinho. Enquanto quedava ali a procura do lago, dois outros visitantes se aproximaram. Vinham subindo a ladeira e ao me verem perscrutando a mata ficaram curiosos. Queriam saber o que.     Era um casal de meia-idade. De São Paulo. Primeira vez em Belo Horizonte. Creio que ficaram satisfeitos com a minha explicação, pois se convidaram para fazer comigo o restante do percurso e assunto não faltou. Foram mil e quinhentos metros de prosa. Disseram que já estavam há três dias na cidade. Que haviam visitado a Pampulha, a Praça da Liberdade e o Parque Municipal e que não poderiam voltar pra casa, frisaram, sem conhecer este paraíso aqui. Paraíso mesmo, falei. Aqui tem árvores de várias espécies, inclusive do Cerrado e da Mata Atlântica. Tem passarinho de toda qualidade, além de micos, esquilos e outros animais de pequeno porte. E o mais importante, finalizei, dezenas de nascentes para manter vivo este precioso ecossistema. E assim, de conversa em conversa, chegamos à Praça das Águas. Meus amigos ficaram encantados com o lago artificial, os jardins de Burle Marx, o Teatro de Arena. Mas o que mais os impressionou foi a imponente beleza da Serra do Curral. Praça das Águas com a Serra do Curral ao fundo Não pra menos. Se eu, que fui criado a seus pés, não me canso de admirá-la, imagina o turista de primeira viagem. E naquele dia não foi diferente. Ao despedir-me, notei que os amigos mal olhavam para mim. Seus olhos, como que hipnotizados, só enxergavam o belo paredão que tínhamos à nossa frente. Não me importei. Saí de mansinho, quase despercebido. Foi a conta de embarcar no 4103, que deixou-me na parada Teatro Francisco Nunes da avenida Afonso Pena. De lá até aqui em casa, na Floresta, foi um pulo.