Um passeio pelos cinemas antigos do centro de Belo Horizonte
Cinemas antigos do centro de Belo Horizonte. Saber quais ainda estão de pé. E em que pé estão. Comecei pelo Cine Regina. Bahia entre Tupinambás e Carijós. Prédio residencial. Nos fundos do hall de entrada, o cinema. Fechado. Perguntei ao porteiro. Há muito tempo, respondeu. Achei vaga a resposta, mas não estiquei assunto. Tinha cara de poucos amigos o cidadão. E eu, muito chão pela frente. Próxima parada, Cine Nazaré. Guajajaras pertinho da Afonso Pena. Prédio residencial também. Desta vez, o porteiro foi mais cortês. Disse que o cinema não existe mais. Que o espaço está à venda. Que o último negócio que vingou por lá foi uma feira popular, há mais de dois anos. Falei tudo bem, obrigado e saí. Frustrado. Subi Guajajaras pensando será que não sobrou um pra contar a história? Rua da Bahia. Cine Guarani? Não, Polícia Militar. O que o senhor deseja? Estou escrevendo sobre os cinemas antigos de Belo Horizonte e gostaria de saber se existe neste prédio um auditório ou algo que lembre o antigo Cine Guarani. Cine Guarani? Nunca ouvi falar. Expliquei que foi há muitos anos, que faz parte da história da cidade, etcétera e tal. Mesmo que nada. Saí com cara de tacho. Já na rua, fiz questão de fotografar as bilheterias e a porta de entrada, felizmente preservadas. Prédio do antigo Cine Guarani à rua da Bahia 1201 E agora José? Descer Bahia até a esquina de Goiás? Vale a sola do sapato não. Cine Metrópole, só na lembrança. Em seu lugar, o despropósito de uma agência bancária. Melhor descer Augusto de Lima. Desci. Até o 420. Sesc Palladium, Foyer Augusto de Lima. Embarquei na escada rolante e deixei-me conduzir ao nível superior, onde se encontra o Grande Teatro, a magnífica casa de espetáculos em que se transformou o antigo Cine Palladium. Eu havia assistido a algumas apresentações por lá, mas nunca circulara além da área das bilheterias, do café e do hall de entrada do teatro. Fiquei surpreso ao saber que essas instalações são apenas parte do grande espaço multiuso implantado pelo Sesc no local: oito andares dedicados à cultura e inovação. Voltei à rua. Outra disposição de ânimo. Embora não esperasse muito do circuito Jacques-Tamoio-Art Palácio, segui adiante. Como eu havia previsto, o resultado não foi dos mais animadores. No 337 da rua Tupis (Cine Jacques) encontrei um shopping center, no 500 da Tamoios (Cine Tamoio), uma loja de roupas, e no 627 da Curitiba (Cine Art Palácio), uma loja de eletro-eletrônicos. A surpresa ficou por conta do Art-Palácio. A antiga sala de cinema foi adaptada para receber a loja de eletro-eletrônicos, mas o telão, o teto e as paredes laterais, onde se vêm detalhes de época, foram preservados. Detalhes do interior da loja onde funcionou o antigo Cine Art Palácio Fiquei tão entretido com os detalhes que nem vi o tempo passar. Já estava na hora de voltar pra casa e ainda faltavam Royal, Brasil e Acaiaca. Tive que encurtar a caminhada. Eu sabia que os antigos cines Royal (Afonso Pena entre Caetés e São Paulo) e Acaiaca (Edifício Acaiaca) haviam se convertido em templos evangélicos. Considerei desnecessária a visita. Com certeza as salas de exibição foram preservadas para a realização de cultos. Restou o antigo Cine Theatro Brasil. Reformado pela Vallourec, o histórico cinema da Praça Sete, a exemplo do Cine Palladium, também se transformou em casa de espetáculos. Como eu já conhecia o espaço, dediquei meu tempo às demais instalações. Conheci as galerias de arte e sua interessante passarela de vidro, o Teatro de Câmara com suas poltronas da década de 30 totalmente restauradas e o Terraço Brasil construído durante a reforma do prédio. Depois fui conferir a programação. Dia 15 de julho eu e Lude vamos assistir “Marcos Catarina canta Vander Lee”.