Passeio na Afonso Pena
Manhã de domingo. No asfalto, poucos automóveis. Pouquíssimos. Na calçada, quase ninguém. Livre da Feira de Artesanato, a avenida respira. Inicio a minha caminhada em frente ao Palácio das Artes. Lá dentro, somente o segurança. Aqui fora a atração é a dança do vento encenada pelas palmeiras imperiais. O problema é que a performance acontece a trinta metros de altura. E o vento lá no alto não está de brincadeira. Mas o meu santo é forte. Deixo para trás o último exemplar da imperial espécie e sigo em direção à rua da Bahia. Vou admirando, desta vez do lado de fora, a beleza do Parque Municipal. Passo pela portaria defronte a avenida Álvares Cabral e mais adiante me deparo com o inconfundível telhado vermelho do Chico Nunes. Nosso velho e memorável Teatro Francisco Nunes. Na esquina de Bahia faço uma pausa diante do antigo abrigo de bondes. Observo a construção: entrada e saída únicas. Final de linha, com certeza. Local onde o motorneiro girava o encosto dos bancos dos passageiros e mudava ele próprio de posição para encetar a viagem de volta. Penso com meus botões é aqui que deveria estar o bonde que se encontra no Museu Histórico Abílio Barreto. Nem que tivessem que protegê-lo com uma redoma de vidro. E já imaginando o sucesso que faria o meu bonde no abrigo original, atravesso a pista e alcanço o canteiro central da avenida. Caminho de volta. Observo as construções à minha direita. O sobrado remanescente das primeiras décadas do século passado, o prédio do antigo Museu do Telefone, o prédio da Prefeitura. O prédio da Prefeitura? Um dos ícones da avenida. Mas o que chama a minha atenção é um detalhe da fachada: três atlantes – figuras antropomórficas esculpidas sob falsas colunas – que eu nunca havia observado com a devida atenção. E confesso, nem sabia que têm esse nome. Mais um aprendizado. Não foram poucos desde que passei a caminhar pelas ruas da minha cidade considerando-a tão interessante quanto qualquer outro destino turístico mundo afora. Prova disso são o prédio do Automóvel Clube e o Palácio da Justiça, que agora desfilam diante de mim com sua imponência e riqueza de detalhes. É de encher os olhos de qualquer turista. Quanta história pra contar. Principalmente o Automóvel Clube, que há exatamente 90 anos, no dia 4 de abril de 1931, recepcionou ninguém menos que os irmãos Eduardo, Príncipe de Gales, e Albert, futuro rei George VI da Inglaterra. Nobreza britânica em BH. E por falar em nobreza, acabei de descobrir agora: chique mesmo é morar no 1456 da avenida. Edifício São José. O único prédio residencial desde Bahia até Guajajaras. Imagina o privilégio do morador que acorda pela manhã, abre as janelas e recebe uma lufada de ar vinda do Parque Municipal. Mas vamos deixar em paz o morador do São José, que neste momento me observa lá do alto, e fechar a primeira volta. Estou diante do antigo Conservatório Mineiro de Música, hoje Conservatório de Música da UFMG. Para mim, um dos prédios históricos mais bonitos e bem conservados de BH. Até aqui foram 10 minutos, ida e volta. Faltam 40 para o fim da jornada. Começo tudo de novo: Palácio das Artes, Teatro Francisco Nunes, abrigo de bondes… A diferença é que agora entram em cena a câmera e o bloco de notas do celular. O resultado é o artigo que você acaba de ler.