Fazendo arte na Lagoinha
Sábado, 14 de setembro. Acordei cedo. Sebo nas canelas, encarei o sobedesce do Colégio Batista e desembarquei na rua Diamantina para conferir o que estava rolando no penúltimo dia do CURA – Circuito Urbano de Arte da Lagoinha. O CURA tem como proposta a revitalização da paisagem urbana através da pintura artística de fachadas de prédios voltadas para um local predefinido de onde o público acompanha, à distância, o trabalho dos artistas. O movimento teve início em 2017, no centro da cidade. As amigas Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni queriam colocar BH no mapa mundial da Street Art e conseguiram. Já temos 10 painéis gigantes assinados por diversos artistas do Brasil e do exterior. No caso da Lagoinha, o público se concentrou na rua Diamantina, entre as ruas Rio Novo e Borba Gato, de onde se tem uma vista privilegiada do bairro: Mirante Diamantina. Foi lá que desembarquei naquele sábado e de lá que acompanhei as últimas pinceladas de Raquel Bolinho na fachada do Edifício Novo Rio. A fachada ganhou vida nova com as múltiplas facetas do personagem que, de tão cativante, acabou se incorporando ao nome da artista. Mas o argentino Elian Chali não deixou por menos. Utilizando cores vivas, o hermano conseguiu renovar completamente a fachada do prédio do SENAI, que fica em frente ao mirante, do outro lado da avenida Antônio Carlos. Show de bola! Show também o trabalho de Priscila Amoni, que tomou emprestado a Adélia Prado o “alaranjado brilhante” do poema “Impressionista” e deixou o bangalô do alto do morro “constantemente amanhecendo”. Eu vi! Vi também que logo logo o clima iria esquentar na rua Diamantina. A montagem dos estandes das cervejarias e da Feira de Gastronomia e os testes da equipe da música não deixavam qualquer margem de dúvida. Enquanto o clima não esquentava, fiquei zanzando por lá, xeretando. Belos textos de Daniel Queiroga, um dos idealizadores do evento, podiam ser lidos em cavaletes espalhados ao longo da rua, verdadeira aula de história para quem quisesse penetrar os mistérios da Lagoinha. Através dos textos de Queiroga fiquei sabendo, por exemplo, que o primeiro bloco de carnaval de BH, o “Leão da Lagoinha”, foi criado em 1947 em um clube de futebol da região e que seu nome é uma homenagem ao Villa Nova de Nova Lima, o “Leão do Bonfim”. E por falar em Bonfim, vocês sabiam que o Cemitério do Bonfim foi o único da cidade até 1942, quando foi inaugurado o Cemitério da Saudade? Que a cúpula metálica do necrotério foi trazida da Bélgica e tombada pelo IEPHA em 1977? Sabiam que o Conjunto IAPI foi o primeiro condomínio residencial em blocos de apartamentos de BH? Que os moradores circulam de um bloco ao outro através de passarelas elevadas? Que o Conjunto abriga em seus 928 apartamentos aproximadamente 5.400 pessoas? Sabiam que o famoso Copo Lagoinha foi eleito nos anos 1990 o melhor copo para se tomar cerveja e que foi introduzido em Belo Horizonte pela tradicional família Vaz de Mello, que já comerciava na região bem antes da inauguração da Capital, em 1897? Tudo isso eu aprendi naqueles textos. Aprendi também que nem só de fachadas de prédios vive o CURA. O muro do lote vago em frente ao Mirante Diamantina que o diga. Depois que passou pelas mãos dos grafiteiros Wanatta, Saulo Pico e Fênix tornou-se uma atração à parte. Finalmente, fui conferir o trabalho da BHTrans. É isso mesmo! A empresa também participou do CURA Lagoinha. Pintou o asfalto da rua Diamantina em cores vivas, criando sinuosidades no traçado. É a chamada “Zona 30”, que pretende limitar a velocidade dos veículos a 30 km por hora. Será? Foto de abertura: intervenção do artista Elian Chali no prédio do SENAI Lagoinha (Foto: Lude G.B.) Mais fotos? Veja a seguir: