Missa na Matriz

Domingo é dia de pescaria, certo? Depende. Se você mora à beira de lago ou rio e tem caniço e samburá, pode ser. Mas se mora na cidade não tem erro: domingo é dia de missa na matriz. No meu caso, se for o segundo domingo do mês, é dia de levar a esposa à Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Neste dia ela é a pianista responsável pela música da missa das onze. Às vezes assisto à missa, mas confesso que ando meio afastado dos ofícios religiosos. Não que eu seja um herege. É que às vezes a proximidade com o Criador é maior quando estou caminhando… No último domingo não foi diferente. Parei o carro no estacionamento da igreja, deixei a pianista junto ao coral e fui caminhar. Depois de algumas voltas ao redor da igreja e de muito sobe e desce, sai em busca de outras paragens.    Desci Alagoas em direção à Afonso Pena. Feira de Artesanato. Muito movimento, muita gente atravancando o caminho. Subi Guajajaras e virei à direita na Goiás, imaginando que no trecho entre a Praça Afonso Arinos e a rua da Bahia eu iria encontrar o que procurava. Não encontrei. Por lá também o movimento era intenso. Acabei subindo João Pinheiro em direção à Praça da Liberdade e não me arrependi. Logo no segundo quarteirão, uma surpresa: a nova pintura do Museu Mineiro. O ocre com detalhes em branco valorizou ainda mais o prédio. Uma beleza! Depois foi a vez do Arquivo Público Mineiro, que funciona bem ao lado. A pintura não é tão recente, mas está muito bem conservada e o contraste entre o amarelo e o ocre do prédio vizinho não deixa de ser interessante. No quarteirão seguinte, parei para fotografar a escola que leva o nome do 6º presidente do Brasil, o ilustre mineiro de Santa Bárbara, Afonso Augusto Moreira Pena. Escola Estadual Afonso Pena. Clica daqui, clica dali, enquanto eu buscava o melhor ângulo para as fotos ouvi alguém dizer você também estudou aqui? Era Edwin, um ex-aluno da escola que vinha descendo a avenida com sua Heloísa. Casal simpático, logo nos identificamos. Expliquei a eles que não estudei naquele estabelecimento, que estava apenas fotografando o prédio, um belo exemplar da arquitetura dos primórdios da capital. Disse-lhes que gosto de fotografar os prédios antigos da cidade, pois me trazem recordações da minha infância não longe dali, no Edifício Teodoro, Afonso Pena esquina de Tupinambás. Edwin, dois anos mais novo que eu, disse que também morou na região, primeiro na avenida Amazonas, em frente ao Edifício Levy, e depois na rua São Paulo, Edifício Vila Rica. Foi o início de um bate papo superinteressante em que recordamos a nossa infância no centro da cidade, falamos de bondes e trólebus, do Parque Municipal e dos cinemas que marcaram aquela época: Jacques, Metrópole e Acaiaca, entre outros. O papo foi tão interessante que perdi a noção do tempo. Uma hora de caminhada (bate papo?), uma hora de missa. Hora de voltar. Cheguei esbaforido, imaginando que a pianista estaria na porta da igreja esperando o marido. Que nada! O celebrante ainda estava no ofertório e pelo andar da carruagem ainda levaria uma boa meia hora para terminar o ofício. O jeito foi continuar a caminhada e terminar a sessão de fotos. Não sei se por obra do Divino Espírito Santo ou por intercessão de Nossa Senhora da Boa Viagem, o fato é que olhei para o alto e vislumbrei as torres da Sagrada Família de Gaudí, tal qual eu havia visto em Barcelona 5 anos atrás. Ainda peguei o finalzinho da missa. O celebrante exortava os fiéis a seguirem o exemplo da Sagrada Família. Eu disse Amém! Foto de abertura: Marco Paulo Bahia Diniz Demais fotos: José Walker