Caminhada da Independência

Feriado de sete de setembro. Sexta-feira. Fui caminhar na Sapucaí. A Sapucaí é uma rua particularmente interessante. Situada entre dois  importantes viadutos, em nível mais alto em relação ao centro da cidade, tem construções apenas do lado de cima, o que a torna um mirante natural e um ótimo local de caminhada. Normalmente começo minhas caminhadas na altura do viaduto da Floresta, vou até o viaduto Santa Tereza e volto ao ponto inicial, repetindo o trajeto três vezes, o que equivale a 3.600 metros de percurso aproximadamente. Naquela sexta-feira, porém, tive uma surpresa: no início da avenida Assis Chateaubriand militares se concentravam para o desfile e no viaduto Santa Tereza as pessoas caminhavam livremente. Carro nenhum. O viaduto estava fechado ao trânsito de veículos. Fiquei ali parado, observando aquela cena incomum, primazia do pedestre sobre o automóvel. Curtindo a posse, mesmo que efêmera, daquele território normalmente dominado pela máquina. Foi quando D. Consciência, sempre atenta, ordenou: vai caminhar vagabundo! Fui… Na volta pra casa resolvi passar pela rua Silva Jardim. E não é que valeu a pena? Partindo da esquina de Sapucaí, logo cheguei a um sobrado de 1922. Café Américo. Uma “fábrica aberta, uma micro torrefação de cafés especiais”. Lembrei-me de um fim de tarde que passei por lá com minha esposa. Ambiente superagradável, café delicioso. Aprovamos! Sobrado onde funciona o Café Américo (rua Silva Jardim 389) num fim de tarde No quarteirão seguinte, à direita, outro sobrado. Na janela do sobrado, duas namoradeiras do Vale do Jequitinhonha. Lembrei-me do rio, sinuoso e pedregoso Jequitinhonha. De uma ponte sobre o rio, uma subida íngreme e uma torre de igreja lá no alto. São Gonçalo do Rio das Pedras! Mais adiante, uma ruazinha. Estreita, daquelas que que só cabe um carro de cada vez. São Geraldo o nome dela. Liga Silva Jardim à Praça Zamenhoff. Isto mesmo… Zamenhoff. Aquela praça que fica em frente à Escola Estadual Barão de Macaúbas. Quase em frente à rua São Geraldo, outra construção antiga. Desta vez, um casarão. Sacada frontal. Dois andares. Varanda lateral no segundo andar. Detalhes em madeira no teto. Bem conservado. Ainda bem! Casarão situado à rua Silva Jardim nº 116 Ao lado do casarão, a Igreja da Floresta. Nossa Senhora das Dores. A que Drummond viu “crescer à sombra do Padre Arthur” e mais tarde criticou por ter permitido a abertura de “caderneta de poupança, loja de acessórios para carros, papelaria, aviário, pão de queijo”. “Triste Horizonte” o nome do poema. E por falar em Drummond, não foi sem conhecimento de causa que ele escreveu o seu “Triste Horizonte”. Foi bem ali, no 107 da Silva Jardim, que ele morou de 1920 a 1934. Procurei a casa do poeta, não encontrei. Em seu lugar encontrei um prédio. Na entrada do prédio, apenas uma placa em sua homenagem. Mas a frustração durou pouco. Deixei para trás o espectro de Drummond e dei de cara com uma pracinha. Livros espalhados por todo lado. Regando as plantas, Estella Cruzmel, cuidadora da pracinha e idealizadora do Projeto Santa Leitura. No meio da pracinha, vestido de calça jeans, um boneco. Da cintura para cima, plantas. O que significa, perguntei. “Quero chamar a atenção para a importância de preservar o verde das nossas praças”, Estella respondeu. Voltei pra casa convencido de que nem tudo está perdido! Era feriado. Feriado de sete de setembro. Sexta-feira. Santa leitura para todos nós. É disso que estamos precisando! Foto de abertura e demais fotos: José Walker Mais fotos? Veja aqui.