Um lugar chamado Baixo Centro
No último sábado eu estava inspirado e joguei um bolão. No primeiro tempo tive um rendimento melhor, devo confessar. No segundo tempo, embora tenha diminuído o ritmo, aguentei firme até o final. Brincadeira! Há muito tempo que não encaro uma partida de futebol. A analogia é para explicar como foi a caminhada que fiz naquele sábado, que teve, como no futebol, dois tempos distintos. No primeiro tempo fiz a minha atividade física, uma caminhada em ritmo acelerado na Sapucaí. Foram 4.000 metros em 40 minutos. No segundo tempo fui dar um passeio pelo chamado Baixo Centro de BH. Em 50 minutos de caminhada não fiz mais do que 1.500 metros. Comecei nas imediações da antiga Escola de Engenharia da UFMG e fui avançando pelo flanco direito de Bahia até Amazonas. Em seguida, subi Caetés e enveredei por Curitiba e Guaicurus até voltar ao ponto de partida. Um giro de 360 graus. Logo no início me deparei com o Estação CentoeQuatro, espaço cultural instalado na antiga fábrica 104 Tecidos (Guaicurus entre Bahia e Andradas). Café, cinema e galeria de arte em um único endereço. Para quem não conhece, é fácil identificar o prédio: a chaminé da antiga fábrica de tecidos ainda está de pé. Na esquina de Bahia com Guaicurus uma boa notícia: o prédio da antiga Biblioteca da Escola de Engenharia está em reforma. Sinal de que o projeto de revitalização do Baixo Centro finalmente está saindo do papel. Mais adiante foi a vez de admirar o prédio do Centro Cultural da UFMG (Bahia com Santos Dumont). Bela construção, muito bem conservada. Merece uma visita, de preferência em dia de evento cultural. Centro Cultural da UFMG (Santos Dumont com Bahia) Em frente ao Centro Cultural da UFMG a grande novidade é a Bagueteria Francesa (Santos Dumont 201, com estacionamento próprio). Lá “os pães são produzidos com levedura natural e assados no lastro, conforme tradição francesa”, segundo os proprietários. Imperdível! Bagueteria Francesa vista do interior da loja Na Amazonas com Caetés o que chamou a minha atenção foi o Edifício Aurélio Lobo. É um digno representante do estilo eclético que predominou nos primórdios da capital. Abrigou, durante muito tempo o tradicional Hotel Sul Americano. E por falar em Caetés, a rua é uma atração à parte. Considerada “Área de Conjunto Urbano” pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, seus prédios históricos constituem um importante acervo arquitetônico. O mais significativo é o prédio do antigo Cine Teatro Comércio (Caetés com São Paulo), que identifiquei facilmente pelo azul da fachada e por sua bela cúpula. É outro que está em reforma. Prédio do antigo Cine Teatro Comércio (São Paulo com Caetés) Referência na Caetés é também a Casa Salles, fundada em Ouro Preto em 1881. Veio para Belo Horizonte em 1904 e funciona até hoje no mesmo endereço (São Paulo 325, esquina de Caetés). Começou vendendo “secos e molhados” e depois se especializou em venda de armas e cutelaria. Mas quem vem roubando a cena ultimamente no Baixo Centro é a rua Guaicurus, onde proliferam os sobe e desce, hotéis em que os hóspedes vão à procura de sexo e permanecem não mais do que 15 minutos, em média. O mais famoso é o Magnífico Hotel, que ficou conhecido através da minissérie Hilda Furacão da Rede Globo (1998), baseada no romance homônimo de Roberto Drummond. Foi lá que se hospedou a personagem que dá nome ao romance do ilustre escritor de Santana dos Ferros. Mais um que está sendo reformado. Magnífico Hotel (Guaicurus com São Paulo) Famosa também é a folia da Guaicurus. Foi lá que surgiu uma das maiores revelações do carnaval de BH, o bloco Então Brilha, cujo nome é uma alusão às profissionais do sexo que atuam por lá há mais de 70 anos. Acham que acabou? Acabou não! O Baixo Centro de BH é uma fonte inesgotável de inspiração. Difícil foi escolher, dentre as dezenas de fotos que tirei, as mais representativas. Mas não se preocupem, resolvi publicar à parte as que não puderam sair no artigo por falta de espaço (para acessá-las, clique aqui). Uma coisa é certa: o Baixo Centro quer brilhar. Então, brilha! Foto de abertura e demais fotos: José Walker Mais fotos? Aí estão: